Atendendo a pedidos a memória desafia o tempo em busca de nossas melhores lembranças. Graças a ela, uma simples imagem é suficiente para que toda magia de um instante nos invada novamente e, num processo rejuvenescedor, acabe revelando que na maioria das vezes, o que julgamos perdido, está somente guardado a nossa espera. E como a nostalgia é um estado de espírito presente somente em quem viveu momentos felizes, o Acervo resgata uma coletânea de títulos que vão do clássico ao contemporâneo e são endereçados a todos que nos escrevem lembrando de momentos tão especiais de suas vidas. Aos amigos, nosso muito obrigado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Guerras Religiosas

Segundo Maquiavel a obrigação suprema do govemante era manter o poder e a segurança do país que governava. Para atingir tal fim era válido o uso de quaisquer meios disponíveis inclusive a mentira. a dissimulação, a violência e a fraude. Esse pensamento foi a primeira justificativa da ilimitada concentração de poderes nas mãos do rei e da formação de um exército nacional poderoso.

Carlos IX
Nos séculos XVI e XVII a autoridade real foi reforçada com as teorias de diversos autores que justificaram o absolutismo monárquico quer do ponto de vista racional como Grotius e Hobbes quer sob o aspecto religioso como Bossuet através da teoria do direito divino de governar. Ao desenvolverem a doutrina da soberania do Estado esses pensadores colocaram o rei como árbitro supremo das decisões porque o poder ilimitado de que ele dispunha era a única forma de assegurar a paz entre os homens.

Henrique III
O Estado absolutista caracterizava-se pela concentração de poderes à disposição da monarquia tais como dirigir a economia legislar nomear ministros criar tributações. O absolutismo era sustentado pela política econômica do mercantilismo que possibilitava a intervenção estatal nos negócios e também pelo equilíbrio social que mantinha entre a nobreza e a burguesia.

A penetração do calvinismo na França agravou os conflitos internos sobretudo a rivalidade política entre duas famílias da antiga nobreza: os Guise e os Bourbon respectivamente católicos e protestantes. Durante a segunda metade do século XVI as guerras de religião abalaram o absolutismo real mergulhando o país em lutas cruentas que terminaram com a derrota dos Guise e da própria dinastia reinante (os Valois) substituída pelos Bourbon.

Duque de Guise
A expansão do calvinismo na França não foi pacífica, contribuindo para agravar os conflitos já existentes entre os nobres e a burguesia. Foram criados dois partidos políticos de interesses opostos:

- O Partido Papista ou Santa Liga, formado pelos católicos e chefiado pelos Guise da região nordeste (Lorena e Borgonha), apoiados pela Espanha;

 Almirante Coligny
- O Partido Hugúenote, criado pelos protestantes e chefiado sucessivamente pelo Príncipe de Condé, pelo Almirante Coligny e pela família Bourbon da região sudoeste (Navarra), apoiados pelos ingleses e por Genebra

O Partido Papista passou praticamente a exercer o poder, em virtude da fraqueza do Rei Francisco II (15591560). Os huguenotes se opuseram aos papistas, querendo atrair o rei para o seu partido e, conseqüentemente, atingir o poder. Isso provocou uma disputa entre católicos e protestantes, que culminou com o massacre de protestantes em Vassy, em 1562, por ordem do partido católico. Assim, começaram as guerras de religião que duraram cerca de quarenta anos, retardando o absolutismo na França.

Catarina de Medici
No governo de Carlos IX (1560-1574), sucessor de Francisco lI, destacou-se Catarina de Médicis, a rainha-mãe. Esta, como regente do filho, que subira ao trono ainda criança, passou a ditar as diretrizes políticas da França. Tentando conciliar as rivalidades entre católicos e protestantes, assinou em 1570 o Edito de Saint Germain, que dava aos huguenotes liberdade de culto em algumas cidades e o direito de manter guarnições militares em quatro cidades: Cognac, La Charité, Montauban e La Rochelle.

Em 1572, Catarina de Médicis tratou o casamento de sua filha, Margarida de Valois, com o protestante Henrique de Bourbon, rei de Navarra. Aproveitando-se da presença na capital de vários huguenotes, vindos para a cerimônia matrimonial, a rainha-mãe e Henrique de Guise, chefe da Liga Católica, convenceram o Rei Carlos IX da existência de uma conspiração protestante em Paris. Para reprimi-Ia o rei autorizou a Noite de São Bartolomeu, a 24 de agosto de 1572, quando inúmeros huguenotes foram assassinados, inclusive o Almirante Coligny.

Com a morte de Carlos IX, seu irmão Henrique III (15741589) assumiu a Coroa. Desentendeu-se com Henrique de Guise, que cobiçava o trono, e mandou matá-lo. Mas um fanático católico vingou a morte de seu chefe, assassinando Henrique III, em 1589.

Henrique de Navarra
O huguenote Henrique de Navarra, indicado por Henrique III seu sucessor legal, foi obrigado a repudiar o protestantismo para efetivar-se como novo monarca, Henrique IV, primeiro da dinastia Bourbon. Declarando que, “Paris bem vale uma missa”, Henrique IV adotou formalmente o catolicismo.

 Em I598 o Edito de Nantes promulgado por Henrique IV pôs fim às guerras de religião e estabeleceu a igualdade política entre os diferentes credos assegurando aos huguenotes a liberdade de culto e o direito de fortificarem as cidades que estavam sob seu controle. O Edito significou um reforço da autoridade real e a retomada do absolutismo monárquico.

O Duque de Sully primeiro-ministro do rei Henrique IV foi o responsável pela política econômica que recuperou as finanças francesas no início do século XVII. Com a racionalização da cobrança de impostos o corte de despesas e a criação de taxas indiretas a Coroa obteve maiores rendas. Mas sua principal fonte de recolhimento foi a venda de cargos administrativos que também colaborou para limitar a influência política da nobreza.

Margarida de Valois
Para fortalecer o absolutismo o cardeal de Richelieu no plano interno diminuiu o poder da nobreza cortando seus privilégios: perseguiu os huguenotes: reformou a administração criando os intendentes das províncias - cargos não vendáveis. Externamente o regente concentrou-se em enfraquecer os Habsburgo da Espanha e do Sacro Império cujos domínios cercavam a França. Para tanto envolveu o país na Guerra dos Trinta Anos não hesitanto em apoiar os príncipes alemães protestantes contra os Habsburgo austríacos.

O governo pessoal de Luís XIV (1661-1715) representou o auge do absolutismo monárquico. O aperfeiçoamento da máquina administrativa e a ampliação do exército real permitiram: a liquidação dos exércitos particularistas e a submissão da nobreza. embora à custa de cargos e honrarias: a restrição da autonomia municipal e a ampliação da cobrança de impostos nas províncias. No campo econômico e financeiro o ministro Colbert desenvolveu o mercantilismo de tipo industrialista incentivando as manufaturas e o comércio. Porém as sucessivas guerras de Luís XIV principalmente a Guerra de Sucessão Espanhola (1700-1713) acabaram por arruinar a França que perdeu a hegemonia política na Europa e mergulhou no déficit crônico.

Em 1685. Luís XIV revogou a liberdade religiosa concedida aos protestantes pelo Edito de Nantes. Para escapar das perseguições a burguesia huguenote fugiu para outros países europeus ou para as colônias da América. Isso provocou a evasão de capitais que agravou seriamente a situação do tesouro francês já abalada com os constantes gastos nas guerras e com os pagamentos de pensões à nobreza palaciana. 

As matanças, organizadas pela Casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando quase 100 mil protestantes franceses (chamados huguenotes) dois anos depois do tratado de paz de Saint-Germain, pelo qual Catarina de Médici tinha oferecido tréguas aos protestantes.







FILME RELACIONADO COM O TEMA INDICADO PELO ACERVO

A Rainha Margot (1994), dirigido por Patrice Chéreau. No século XVI um casamento de conveniência é celebrado com o intuito de manter a paz. A união entre a católica Marguerite de Valois, a rainha Margot e o nobre protestante Henri de Navarre tinha como meta unir duas tendências religiosas. O objetivo do casamento foi tão político que os noivos não são obrigados a dormirem juntos. As intrigas palacianas vão culminar com a Noite de São Bartolomeu, na qual milhares de protestantes foram mortos. Após isto Margot acaba se envolvendo com um protestante que está sendo perseguido.

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