Atendendo a pedidos a memória desafia o tempo em busca de nossas melhores lembranças. Graças a ela, uma simples imagem é suficiente para que toda magia de um instante nos invada novamente e, num processo rejuvenescedor, acabe revelando que na maioria das vezes, o que julgamos perdido, está somente guardado a nossa espera. E como a nostalgia é um estado de espírito presente somente em quem viveu momentos felizes, o Acervo resgata uma coletânea de títulos que vão do clássico ao contemporâneo e são endereçados a todos que nos escrevem lembrando de momentos tão especiais de suas vidas. Aos amigos, nosso muito obrigado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Expulsão Austríaca da Itália


Europa, princípios do século XIX. Napoleão perdeu a guerra para os participantes da Grande Coligação: Áustria, Rússia, Prússia, Inglaterra. Em 1815, esses países reúnem-se no Congresso de Viena (na Áustria) para tratarem da redistribuição dos territórios que haviam sido conquistados por Napoleão. Entre as inúmeras regiões da Europa que haviam caído nas mãos da França e que agora deviam ser restauradas pelos vencedores estava grande parte da península itálica.

A partilha de Europa pelo Comitê dos Quatro: Inglaterra,
Rússia, Áustria e Prússia.
Após as decisões do Congresso de Viena, a Itália divide-se em uma série de ducados, pequenas monarquias e principados, submetidos, em sua grande maioria, a países estrangeiros. 

O Reino das Duas Sicílias, com capital em Nápoles, é submetido à casa dos Bourbon, espanhóis aliados da Áustria. Os ducados de Parma, Módena, Lucca e o Grão Ducado de Toscana são todos governados por príncipes austríacos. O Reino Lombardo-Veneziano também está sob o domínio da Áustria. Os Estados da Igreja (Roma, Úmbria, Ancona e Ravena) foram devolvidos ao papa; mas a Áustria reservou-se o direito de ocupar Ravena e Ferrara com suas guarnições. Somente o Reino de Sardenha, acrescido de Gênova, Nice e Sabóia, está independente, livre da influência austríaca, governado pela casa de Sabóia.

Francisco I da Áustria
O permanente contato com a vizinha França divulgara na península os ideais da Revolução Francesa: autodeterninação e democratização dos povos. E é justamente o contrário do que acontece na Itália. Napoleão não mais domina o território; mas agora aí estão os austríacos e seus aliados. Começam a surgir os movimentos de rebelião.

Os primeiros a se organizarem no sentido de libertar a Itália são os carbonários, logo após o Congresso de Viena. Oficiais, comerciantes, intelectuais, influenciados pelas idéias liberais francesas, unem-se em sociedades secretas, na defesa do nacionalismo. De 1815 a 1830, conseguem provocar revoltas e golpes de Estado militares, como o de Nápoles, em 1820, e o de Alexandria (no Reino das Duas Sicílias), em 1821. Mas a falta de um bom planejamento e de apoio popular organizado faz com que todos êsses movimentos sejam abafados com certa facilidade. Os membros da Carbonária são presos ou deportados, desaparecem suas sociedades secretas. A Carbonária foi abafada, mas outros movimentos surgem.

Giacomo Mazzini
Em 1831, explodem revoluções em Módena, Parma, Marcas, Romanha. A princípio, parecem bem sucedidas. As esperanças dos revolucionários apóiam-se numa possível ajuda de Luís Filipe, da França. Mas a ajuda não vem: a França recusa-se a intervir. O imperador Francisco I, da Áustria, reprime os revoltosos. No entanto, os italianos não se consideram abatidos; vêem a situação sob novo prisma: estão sozinhos, só podem contar com suas próprias fôrças. A única saída é fortalecer-se pela união e tomar-se um só Estado.

Victor Emanuel II
Apesar do fracasso do movimento nacionalista de Mazzini (Jovem Itália), as derrotas iniciais não sufocaram a idéia de unificação na península, principalmente na única região independente de domínio estrangeiro, o Reino do Piemonte-Sardenha. Aí, onde floresciam indústrias e a economia se desenvolvia aceleradamente, a camada mais rica continuou a defender a centralização política da península, pois disso dependia a plena expansão de seus negócios. Esse grupo encontrou um aliado precioso, o Conde de Cavour, que desde 1847, através do jornal Risorgimento, defendia a unificação como a maneira de recuperar a antiga posição de destaque que os italianos desfrutaram na Antiguidade e na Renascença.

Camilo Benso, Conde de Cavour
Em 1852, Cavour foi nomeado, pelo Rei Vítor Emanuel II, primeiro-ministro do Piemonte. Assim pôde pôr em prática seus planos de fortalecer o reino piemontês e subjugar as demais regiões. Internamente, iniciou uma política liberal, reformando a justiça e o exército e incentivando a economia. No plano externo, procurou bons aliados para se fortalecer e confrontar-se com a Áustria.

Analisando o panorama político internacional, Cavour optou por uma aliança com Napoleão III, de quem obteve, em janeiro de 1859, o apoio formal mediante recompensas territoriais. A guerra concretizou-se em abril, quando o Piemonte não aceitou o ultimato austríaco para desmilitarizar a fronteira com a Lombardia. Os nacionalistas italianos obtiveram vitórias mesmo após o imperador francês ter retirado seu apoio a Cavour, por não desejar que os Estados Pontificios, sob sua proteção, fossem também anexados.

Napoleão III
O armistício foi assinado em julho de 1859 e confirma do posteriormente em tratados de paz submetidos a plebiscito popular. O Piemonte ganhava a Lombardia, bem como a Toscana, a Romanha, Parma e Módena; Veneza permanecia em poder da Coroa austríaca dos Hábsburgo. Nice e Savóia foram reincorporda à França com a anuência popular.

Giuseppe Garibaldi
O maior articulador da unificação no sul da Itália foi o republicano Giuseppe Garibaldi, chefe do grupo guerrilheiro dos Camisas Vermelhas. Veterano de lutas no Brasil (participou da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande I do Sul), Garibaldi foi companheiro de Mazzini nas revoluções de 1830 e 1848 na Itália. Após um período de exílio, voltou à península e organizou em 1860 a insurreição no Reino das Duas Sicílias, reunindo um exército de voluntários conhecido como os Mil de Garibaldi.

Dois conflitos externos permitiram a Vítor Emanuel II completar a unificação italiana, com a anexação de Veneza e Roma.

Quando eclodiu a Guerra Austro-Prussiana, em 1866, a Itália, em processo de unificação, aliou-se à Prússia, por estar interessada na anexação de Veneza, então sob o domínio austríaco. Com a derrota da Áustria, Veneza foi incorporada à Itália.

Com o inicio da Guerra Franco-Prussiana, em 1870, Napoleão III viu-se obrigado a retirar as tropas que mantinham a integridade dos domínios da Santa Sé. Aproveitando-se do fato, os exércitos italianos invadiram Roma submetendo-a aos Savóia. Roma tomou-se a capital da Itália unificada.

Garibaldi, depois de reunir um pequeno exército de mil voluntários que trajavam camisas vermelhas - daí o nome Mil Camisas Vermelhas - e ser recebido pelas massas populares do sul como  libertador da tirania austríaca, vê surgir de todas as partes voluntários para incorporar-se sob sua bandeira, que ao fim da expulsão inimiga, contabilizavam mais de 25 000 pessoas.



FILMES RELACIONADOS COM O TEMA INDICADOS PELO ACERVO

O Príncipe Rebelde (1950), dirigido por Pino Mercanti. Inconformado com a dominação estrangeira, um príncipe lidera um grupo que luta pela unificação da Itália.

Sedução da Carne (1954), dirigido por Luchino Visconti. Durante a Guerra Austro-Veneziana, uma condessa italiana trai sua gente ao apaixonar-se por um oficial invasor.

O Leopardo (1963), dirigido por Luchino Visconti. Filme baseado na obra homônima de Lampedusa, sobre as guerras de libertação de Garibaldi, que provocaram a queda da aristocracia siciliana e a ascensão da burguesia.

Em Nome do Papa-Rei (1977), dirigido por Luigi Magni. Um prelado, destacado para assistir a três rebeldes das tropas de Garibaldi, descobre que um dos presos é fruto do amor ilícito que tivera com uma condessa.

A Trilha (1983), dirigido por Bernard Favre. Durante as lutas pela unificação italiana, em 1859, um comerciante é envolvido pela guerra entre França. Áustria e reinos do norte da Itália.

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